domingo, 27 de maio de 2007

Mapa de Anatomia: O Olho

Mapa de anatomia: o olho

Cecília Meireles

O Olho é uma espécio de globo,
é um pequeno planeta
com pinturas do lado de fora.
Muitas pinturas:
azuis, verdes, amarelas.
É um globobrilhante:
parece cristal,
é como um aquário com plantas
finamente desenhadas: algas, sargaços,
miniaturas marinhas, areias, rochas, naufrágios e peixes de ouro.

Mas por dentro há outras pinturas,
que não se vêem:
umas são imagens do mundo,
outras são invetadas.

O Olho é um teatro por dentro.
E às vezes, sejam atores, sejam cenas,
e às vezes, sejam imagens, sejam ausências,
formam, no Olho, lágrimas.

Janela da alma


Esta é uma das minhas janelas.
tenho várias e todas belas.
Belas pois permitem adentrar
o mundo neste oco vão de corpo
mudo.
Delas saem mundos, palavras, cenas,
olhares. todos delirantes. todos saudosos.
Alguns tristes e melancólicos.
Mas é isto, o mundo são isto.tudo que entra sai.
diferente, transformado, significado.

sábado, 26 de maio de 2007

momentos


ehe....dona mãe!

Sobre Torcer e Torcedores

Amor não cobra,
Propõe sonhos,
Colabora, brinca.
Escancara a vida
No outro.
(alexandreSgonçalves)

Acho que torcer é isso, é brincar com a possibilidade de perder, arriscar a possibilidade de fazer o melhor. O esporte não foi inventado como uma competição entre indivíduos ou times, foi inventado para a superação dos limites, coletivos e individuais.
Cada qual fazendo o melhor possível, se este for o melhor entre os outros, talvez eu ganhe, mas este não pode ser o foco. Torço pelo Corinthians, por exemplo, não exigindo que ele ganhe sempre, mas que faça sempre o melhor que puder naquele dia, de o seu máximo, jogue com garra.
È só isto que espero do time, dos jogadores do time. Que se dediquem com o que puderem.
(E cobro sim a administração para tenha relação clara quanto a forma de organização do time ou clube.)(ver Movimento Fora Dualib)

Talvez assim possamos compreender o jogo como algo de diversão, de partilha, de emoções, pois há muito prazer em ver uma disputa de limites, há farra, brincadeira que envolve tudo isto. È por isso que torço, que sou apaixonado pelo time que torço. Não para vê-lo ganhando sempre, mas para compartilhar com ele todas estas experiências. E isto é amor.

Este jeito grosseiro e violento de torcer, de amar, este amor de posse, de dono, é fruto deste sistema individualista e capitalista, que visa o próprio umbigo em detrimento do umbigo dos outros. Esta sensação de ter que ser feliz o tempo todo, esta sensação de mentira que nos obrigam a comprar através da mídia, corrupta, estes desejos todos que as vezes não sabemos nem porque os temos. Este jeito violento de torcer é fruto disto.

Talvez se nos colocarmos diferente diante destas situações, possamos mudar este mundo. Talvez se amarmos diferente! Isto inclui uma mudança na relação com o outro, com o mundo, coisa difícil de fazer, mas possível.

Todos estes estudos sobre violência de torcedores e todas as outras, são interessantes e têm seus valores, mas é mais simples. A violência esta instaurada porque despejamos todas as nossas angústias e aflições sobre a vitória de um time, amamos desesperadamente um time ou uma pessoa por não conseguirmos nos amar, violentamos e somos violentados o tempo todo nesta relação individual e indigesta. A violência vem da desigualdade, de apesar de ser o tempo todo identificado, não reconhecer-se em lugar algum. Vem da falta de possibilidade de ouvir e depois falar. Vem desta relação humana superficial, reificada.

Penso que devemos tentar amar diferente, mesmo em meio a este monte de contradições. Reconhece-las, as contradições, nos da um conforto de saber sobre possibilidades e limites.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

Tempo



(fotos aSg)

mais radial leste...

ela dorme/dança/nasce. penso que tudo o mais que me acontece é o
ping-pong entre testemunhá-la e compreendê-la. Será necessário uma
nova linguagem para dar conta de seus prodígios. Domingo passado: foi
vista em andrajos, após a chuva, trazendo um imenso hibisco cobrindo
a orelha esquerda. Ela também era a chuva, o hibisco, o domingo. Seria
necessário uma nova linguagem. Quando, por exemplo, ela pegou uma
carona na caçamba de um caminhão, radial leste adentro, para que o
mundo tivesse essa história para se contar - seus companheiros de viagem,
desde sempre, já traziam seu nome nos lábios, seu nome nos cílios. Ela
dorme/ dança/ nasce. É o terceiro que anda conosco.

poema de Danilo Monteiro

Ação e Reação?

Radial Leste a dentro, mais um caminho por muitos periféricos. O murro já repercute a lei de ação e reação! Mas qual a reação? Será reprodução da ação que nos leva sempre a esta aflição?! Será? Será! Seremos o que respondemos!

Deêm uma olhada no vídeo. http://www.youtube.com/watch?v=l6fVA25118Y

segunda-feira, 14 de maio de 2007

não sei nem por onde ir, mas vou caminhando por aí!
trombando.
fuçando.
parafraseando a vida.
oh dor no peito,
comprimido por meus pensamentos!

mas que vida é esta?

ai que vontade de gritar!
UAHHHHHHHHHHHHHAAAAHAHAHAHAHAAAAAAAAAAAAAA
AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAHAHAHAHAHAA
AHHHHHHHHHHHAAAAAAAAAAHAHAHAHAHAHAAAAAAAAAA!

suspiros...alívios

ah peito, ah corpo reprimido!
por favor, me olhe nos olhos.

encarne na carne o que tu és
e faça-o nos meus olhos.

A Lei

O Capitão Camilo Techera andava sempre com Deus na boca, bom dia se Deus quiser, até amanhã se Deus quiser.
Quando chegou ao regimento de artilharia de Trinidad, descobriu que não havia um único soldado que estivesse casado como Deus manda e que todos viviam em pecado, retouçando na promiscuidade como os bichos do campo. Para acabar com aquele escandâlo que ofendia o Senhor, o capitão mandou chamar o padre. Num único dia, o padre administrou a toda a tropa - cada qual com sua cada qual - o santíssimo sacramento do matrimônio, em nome do capitão, do Pai, do Filho, e do Espírito Santo.
No domingo, todos os soldados se tornaram maridos.
Na segunda-feira, um soldado disse:
- Essa mulher é minha.
E cravou a faca na barriga de um vizinho que olhava para ela.
Na terça-feira, outro soldado disse:
- Vê se aprende.
E torceu o pescoço da mulher que lhe devia obediência.
Na quarta-feira...

Texto de Eduardo Galeano, retirado da revista Bundas, nro 45 do ano 2000.

E nós....?

ruídos




(fotos aSg)

MST

Foto Sebastião Salgado

sexta-feira, 4 de maio de 2007

A tristeza do mundo todo

esta aqui
bem perto, dentro
é tristeza minha,
é do mundo!

Aconchego-a em meu peito
faço-a dormir,
nino, canto, cafuné...

Incorporo, exploro
sorrindo
choro

Aqui há um vão!
bem no meio,
onde aconchego
perto da canção.

Sinto-a branca.
não é saudade,
ombros doídos,
não são mãos de criança.

Tenho o mundo agora
mais perto.
adentro-me em vão.
Opaco,
Oco,
este amargo
é de sangue moído.

VERDADE

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.

Carlos Drummond de Andrade

Ouvidos e tonus!

as palavras passam e
os músculos atrofiam e
os olhos abrem-se e
a carne treme e
escuro e
claro e
e!

Se eu soubesse sobre todos os es
es-taria
não aqui

por lá
perto de onde
jamais vi
nada mudo
surdo
indizente

Ahhh o peito
comprimido
é memória do coração
é química pulsante
sangue escorrendo
rasgando
fugaz,
fugando,
o corpo esvai-se
sorrateiro
penumbrando.

A gota,
foi a gota,
saiu,
não voltou.