sábado, 26 de maio de 2007

Sobre Torcer e Torcedores

Amor não cobra,
Propõe sonhos,
Colabora, brinca.
Escancara a vida
No outro.
(alexandreSgonçalves)

Acho que torcer é isso, é brincar com a possibilidade de perder, arriscar a possibilidade de fazer o melhor. O esporte não foi inventado como uma competição entre indivíduos ou times, foi inventado para a superação dos limites, coletivos e individuais.
Cada qual fazendo o melhor possível, se este for o melhor entre os outros, talvez eu ganhe, mas este não pode ser o foco. Torço pelo Corinthians, por exemplo, não exigindo que ele ganhe sempre, mas que faça sempre o melhor que puder naquele dia, de o seu máximo, jogue com garra.
È só isto que espero do time, dos jogadores do time. Que se dediquem com o que puderem.
(E cobro sim a administração para tenha relação clara quanto a forma de organização do time ou clube.)(ver Movimento Fora Dualib)

Talvez assim possamos compreender o jogo como algo de diversão, de partilha, de emoções, pois há muito prazer em ver uma disputa de limites, há farra, brincadeira que envolve tudo isto. È por isso que torço, que sou apaixonado pelo time que torço. Não para vê-lo ganhando sempre, mas para compartilhar com ele todas estas experiências. E isto é amor.

Este jeito grosseiro e violento de torcer, de amar, este amor de posse, de dono, é fruto deste sistema individualista e capitalista, que visa o próprio umbigo em detrimento do umbigo dos outros. Esta sensação de ter que ser feliz o tempo todo, esta sensação de mentira que nos obrigam a comprar através da mídia, corrupta, estes desejos todos que as vezes não sabemos nem porque os temos. Este jeito violento de torcer é fruto disto.

Talvez se nos colocarmos diferente diante destas situações, possamos mudar este mundo. Talvez se amarmos diferente! Isto inclui uma mudança na relação com o outro, com o mundo, coisa difícil de fazer, mas possível.

Todos estes estudos sobre violência de torcedores e todas as outras, são interessantes e têm seus valores, mas é mais simples. A violência esta instaurada porque despejamos todas as nossas angústias e aflições sobre a vitória de um time, amamos desesperadamente um time ou uma pessoa por não conseguirmos nos amar, violentamos e somos violentados o tempo todo nesta relação individual e indigesta. A violência vem da desigualdade, de apesar de ser o tempo todo identificado, não reconhecer-se em lugar algum. Vem da falta de possibilidade de ouvir e depois falar. Vem desta relação humana superficial, reificada.

Penso que devemos tentar amar diferente, mesmo em meio a este monte de contradições. Reconhece-las, as contradições, nos da um conforto de saber sobre possibilidades e limites.

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