segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Discussão sobre estádio

O corintiano precisa de um lar acessível e popular
Estádio do Corinthians: pauta antiga num novo cenário.
A história recente do glorioso Sport Club Corinthians Paulista é marcada pela idéia de ter uma casa
que possa abrigar sua imensa nação. A construção do estádio do Corinthians ganhou força num cenário em
que há uma conjuntura favorável devido ao fato do Brasil sediar a Copa do Mundo de 2014. A nação
corintiana precisa estar atenta ao debate, e defender o que de fato beneficiará o corintiano e a população em
geral. A construção de um templo para abrigar a fiel torcida não pode ficar refém de piratas que navegam
nas ondas financeiras da economia de mercado.
O novo estádio do Corinthians será construído em Itaquera. A decisão foi tomada pelo presidente do
Corinthians Andrés Sanchez. Aproveitando o momento, e a necessidade da cidade de São Paulo por um
estádio para a Copa do Mundo de 2014, um acordo foi realizado. Dessa forma, foi anunciado em 27 de
agosto de 2010 que o novo Estádio do Corinthians será também o palco do jogo de abertura da Copa. Desse
acordo participaram o governador paulista, Alberto Goldman; o presidente da CBF, Ricardo Teixeira, e o
prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Sabe-se também que o presidente Lula incentivou a Construtora
Odebrecht a entrar no negócio. Assim sendo, a Construtora investirá R$ 300 milhões na obra, sendo duas
as maneiras de arrecadação desse montante: por um lado, por meio de um financiamento do BNDES e com
isenção fiscal. Por outro, pela exploração dos direitos de nome do estádio1. Desde já é importante ressaltar
que a torcida do Corinthians não aceitará um estádio com nome de empreiteira ou de banco. O maior
patrimônio do Corinthians é sua torcida. Ela é quem deve ser homenageada. Por isso propomos um nome
para o estádio que verdadeiramente represente o povo corintiano: Fielzão!!!
Em 1o de setembro de 2010, o Corinthians comemora 100 anos de sua história social. Fruto de uma
sociedade cuja história é marcada pela luta de classes, o S. C. Corinthians Paulista no futebol se formou
como o representante dos trabalhadores e das classes populares. Num período em que tudo é “business”,
querem nos enfiar goela abaixo o marketing do lucro e da exploração baseada nas relações de amor e
paixão. “O Corinthians é o time do povo, e é o povo quem vai fazer o time”, frase do trabalhador e primeiro
presidente Miguel Bataglia, e que hoje ganha nova relevância.
O Corinthians e os corintianos têm no atual período histórico um papel importante: tomar
consciência da sua função social enquanto organização movida pela paixão dos populares. Hoje os
corintianos estão com a chance de contribuir, enquanto organização que mobiliza 30 milhões de pessoas,
para que se diminuam as desigualdades sociais e para que os seus, trabalhadores e trabalhadoras,
maloqueiros e maloqueiras, sofredores e sofredoras, possam participar no processo que funda e fundamenta
este time de futebol e clube nos seus 100 anos de história. Essa chance se dá a partir do processo de
construção e participação popular do estádio com seus torcedores.
Nossa pauta enquanto torcedores corintianos que se organizam é com a construção do estádio do
nosso glorioso Corinthians. Um estádio que nos represente precisa demonstrar em sua proposta os
fundamentos que permeiam nossa história: 1o) deve-se construir um estádio de fácil acesso pelo transporte
público, e Itaquera é um ótimo lugar por ser a Zona Leste o grande reduto corintiano, e reúne todas as
condições para abrigar essa nação: estação de metrô (linha vermelha) e trem (linha coral); shopping
Itaquera; avenida Radial Leste; avenida Jacu Pêssego (que liga o ABC Paulista, São Mateus e Itaquera ao
Aeroporto de Guarulhos), etc.; 2o) o estádio deve tratar todos os torcedores corintianos como iguais que
são, para que não haja privilégios. Todos devemos ter acesso aos serviços de qualidade. O estádio deve
conter uma única arquibancada, sem divisão de setores. Sem classes; 3o) o estádio é do torcedor corintiano
para o torcedor corintiano, e precisa ser o patrimônio do clube. O corintiano deve ser tratado como
participante desta construção e não como consumidor. 4o) o nosso estádio não deve ser uma obra faraônica,
deve ser feito da maneira como pudermos fazê-lo, com simplicidade e praticidade, e que possa representar
a nação corintiana em seus diversos aspectos.
No processo de construção do estádio deve haver estratégias que contribuam para o
desenvolvimento do local onde será erguido (Itaquera, região e entorno) e para o desenvolvimento dos
trabalhadores que participarão deste processo. Não queremos um estádio que remova a população pobre do
entorno do terreno onde será erguido. Devem-se haver garantias para a permanência da atual população
local nas suas atuais residências. É importante também que por meio do mote da Copa do Mundo, seja
enfatizada a melhora do transporte coletivo na região, com a construção de pelo menos mais duas linhas de
metrô que ligue Itaquera a outros pontos da cidade. A atual Linha Vermelha está saturada e transforma o
andar de metrô numa humilhação cotidiana para os moradores da região. Sugerimos que a atual Linha
Verde do Metrô seja estendida até Itaquera, e não até o Tatuapé. Desse modo, moradores da zona leste
chegariam aos seus locais de empregos mais rapidamente, assim como a região hoteleira da Avenida
Paulista teria fácil acesso ao novo estádio visando a Copa. Também sugerimos uma Linha de Metrô que
una o ABC paulista ao município de Guarulhos. Dita Linha teria ponto final no Aeroporto de Guarulhos, e
seria construída por toda extensão da Avenida Jacú-Pessêgo indo até a estação Santo André do trem. Dessa
forma, os turistas rapidamente se deslocariam ao novo estádio, e os trabalhadores moradores da região
acessariam com facilidade o ABC e Guarulhos, regiões com variadas ofertas de lazer e serviços. Nunca é
demais lembrar que as obras para a Copa do Mundo devem deixar um importante legado social. Não se
deve repetir a vergonha constatada no Panamericano de 2007, realizado no Rio de Janeiro. Desta vez o
torcedor está muito mais atento e crítico.
Pensando na construção do estádio, deve-se priorizar o trabalho em cooperativas, fomentando a
autogestão destes trabalhadores. De preferência, devem ser contratados trabalhadores que morem na região.
O trabalho não deve ser alienado e o tempo de trabalho deve ser menor para que os trabalhadores tenham
tempo do descanso, do lazer e da instrução apropriados como elementos de autonomia, já que é possível
usar a maquinaria na construção. Além do mais, não se pode deixar tudo nas mãos das empreiteiras, que
hoje possuem um poder absoluto na construção de pontes, estradas, edifícios e até estádios. Cabe lembrar
que estas empresas operam com base na super-exploração dos trabalhadores e com poucos investimentos
em tecnologia para minimizar a brutalidade existente na construção civil. A Odebrecht não pode atuar
apenas visando o lucro e seus benefícios particulares. É preciso haver regulação e monitoramento na
garantia da segurança do trabalho e a melhor condição para esses trabalhadores na produção do templo
corintiano. O operário em construção faz a obra e é feito por ela. Não podemos nos manchar com o sangue
dos operários no concreto devido ao moinho de gastar gente2 existente há tanto tempo no país. O Brasil de
Todos será feito com a participação de todos, não apenas de dirigentes e empreiteiras.
Torcedor Corintiano, participemos deste processo como atores e não como marionetes. Vamos
marcar debates públicos sobre esta decisão que para nós tem grande importância. Um estádio do
Corinthians tem que ter a cara do povo, do povo maloqueiro e sofredor. A construção do estádio pode
contar com os financiadores mais fiéis para sua realização: a nação corintiana. O Estádio Corintiano precisa
ser a expressão desta imensa nação apaixonada e fiel: o Corinthians é o Corintiano. É necessário organizar
campanhas, panfletagens em porta de estádio, faixas com dizeres que reflitam os interesses dos torcedores,
mobilizações permanentes, camisetas e músicas da campanha, entre outras ações que possam reverter esse
quadro de apatia e de perda de rumo dos torcedores organizados. Isso é fazer política, pautar os nossos
interesses e criar as condições de convencimento de nossos pares na construção de um interesse comum: o
interesse da nação Corintiana por uma sociedade igualitária.
Coletivo de Torcedores Corintianos
(Dudu, Sandro B.O, Pablo, Xandi)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Corinthians

O meu Corinthians
Por: Sócrates, na Carta Capital
04/09/2010
Solito foi um de nossos companheiros na democracia corintiana. Ele e o irmão, o que poderíamos considerar quase um caso de nepotismo. Mais ou menos como a história do Pelé com seu irmão Zoca. De qualquer forma, é um excelente caráter e foi um grande goleiro. Mas naquele ano de 1983, ele estava na reserva. Foi quando protagonizou um dos momentos mais marcantes daquele período.
Era véspera do escrutínio mais importante da história do Corinthians, estava em jogo a preservação de um novo modo de gerir o futebol: a ativa participação dos atletas e a democratização das decisões, com liberdade e responsabilidade. Para vencermos, era necessário conquistar a maioria dos votos dos sócios e eleger a metade do conselho. Os conselheiros vitalícios (a outra metade) eram, na sua maioria, de oposição.
Democrático
Difícil! Nosso adversário – Vicente Matheus – era uma lenda viva no clube, onde raramente fora derrotado. Quase todos os jogadores também eram sócios, o que nos dava uma dupla responsabilidade. Wladimir e Zé Maria se candidataram. Houve muita especulação sobre a minha presença na lista de candidatos, mas não podia abrir mão de minhas convicções – eu rejeitava o método indireto de eleições. Sempre lutei pelo voto direto e continuo a acreditar ser esse o melhor meio de avaliação democrática. Com ele respeita-se a alternância de poder, tão necessária, principalmente naqueles tempos de ditadura militar.
Maiúsculo
Não me afastei da luta, usei, isto sim, todas as armas que possuía. Era a minha alma que estava envolvida naquele processo. Decidi e tornei público que, se por acaso perdêssemos, nunca mais jogaria no clube. Era definitivo. Quando se iniciou o processo eleitoral no Corinthians, avaliou-se que a disputa seria muito equilibrada. Todo voto seria fundamental para aumentar as chances de vitória. Como ocorre nessas condições, até os mais velhos e doentes eram contemplados com visitas, na tentativa de atraí-los para um lado ou para o outro. A polêmica ultrapassou os portões do clube. Era uma instituição democrática que estava em jogo. E as forças reacionárias entraram para valer. Às nossas cores se somaram todos os setores progressistas da sociedade: sindicatos, partidos de esquerda, formadores de opinião e muitos mais.
Obstinado
O dia a dia do clube estava pegando fogo. Nunca houve uma eleição para presidente de clube esportivo com tamanho grau de politização. Chegou a semana decisiva. No dia da eleição, um domingo, tínhamos jogo no Rio de Janeiro. Durante a semana, promovemos uma grande discussão acerca da data em que deveríamos viajar para o jogo no Maracanã. Era de interesse dos mais envolvidos na questão eleitoral ficar em Sampa até o último momento, para que pudéssemos votar e fazer a boca de urna.
Terno
Teríamos tempo suficiente pa-ra realizar as duas missões. Outros estavam reticentes. Apro-ximadamente, a metade dos companheiros não queria ou tinha medo de enfrentar a questão de frente, arriscar-se a perder a partida e ser criticado por isso. Como se o fato de viajarmos no dia anterior ao jogo aumentasse as possibilidades de vitória. Percebemos a indefinição do quadro, passamos a semana tentando convencê-los de que a prioridade era a disputa eleitoral, a qual, aliás, definiria o nosso futuro. Resolvemos, como sempre, levar a questão ao voto. Dois dias antes da partida, com o estádio cheio de torcedores que ali estavam para assistir ao treino e viver o clima das eleições, nos reunimos no meio do campo.
Altaneiro
Atletas, comissão técnica, massagistas, roupeiros e diretores se reuniram mais uma vez para decidir. Que maravilha! Um a um, fomos colocando nossos votos e as razões para a escolha. Nenhuma posição se destacava. Seu Paulo, o roupeiro, se absteve, talvez por respeito aos mais novos. Até que chegamos ao último sufrágio… empatados! Adivinhem a cara do Solito, quando todos se voltaram para ele. Acuado, ele sussurrou: sábado! Foi a mais equilibrada disputa que tivemos e a derrota mais bela. Até porque vencemos as eleições presidenciais.
Divino
Deus não tem idade. O Corinthians é muito maior que a idade que possa ter; é um símbolo, uma essência, um sentimento. É claro que o centenário tem um valor simbólico e as pessoas se reúnem em torno desse símbolo. Mas isso é secundário à importância que tem alguma coisa capaz de agregar tanta gente de origens absolutamente distintas.
E sobre o centenário, falei o seguinte ao meu amigo Vitor Birner: “Não vejo o Corinthians com idade. É como Deus”.