terça-feira, 12 de junho de 2007

O Último Americano Virgem

Um filme do início dos anos 90, tipo besteirol americano de adolescentes tarados, e ontem estava pensando porque este marcou minha adolescência. Relembrando o filme vi que o que me marcou foi que o jovem protagonista, um tipo não feio, mas não atlético, da turma dos que pensavam mais e tinham menos músculos, que sofriam toda aquele preconceito na escola por ser diferente, é apaixonado por uma bela moça. A moça no entanto, sua amiga, é do tipo bonitona que sai com os caras do time de futebol, ela é apaixonada por um deles, o tipo cachorrão, que sai com várias, trai a moça, faz e fala um monte de merda. Até aí é mais um filmezinho de romance que no final o protagonista bonzinho fica com a donzela arrependia. Mas não, o protagonista que cuida durante o filme todo da bela moça, sua paixão, é também amigo do atleta cachorrão, e ele fica sendo o ombro da moça, o grande amigo...! No fim sei que ela engravida do atleta, o cara dá um pé na bunda dela durante toda a gravidez e quem fica do lado dela? o protagonista, é ele quem cuida, arruma trabalho, sustenta a moça, assumi um monte de bucha, e a moça se diz apaixonada. No final então quando ele vai ao hospital vindo do trabalho que arrumou para ver a criança e a mãe, trazendo flores, vê a moça abraçada com o atleta... O filme acaba aí. E pensando porque é que ainda lembro deste filme e talvez ele não seja bem assim, mas esta situação ficou gravada na minha fuça. Ontem descobri, no filme o rapaz é considerado um coitado por todos e também pela pessoa que ama. Isto me doía muito, e vi ontem que ainda dói, lembro disto porque sou pobre, filho de pais considerados coitados nas suas famílias, todos os dois trabalhadores que se arrebentaram de trabalhar para sustentar os filhos, minha mãe trabalhou dias e noites, várias e várias vezes para poder deixar para eu e meus irmãos a única coisa que ela achava que poderia nos dar, uma boa educação, pagou uma escola particular, depois que me formei na 8 série minha mãe ainda devia uns 3 anos de mensalidade minha. Neste processo entendi que sempre fomos coitados, minha família é uma família de coitados, coitados na escola pois não tínhamos o uniforme certinho, não tínhamos tenis da moda, era um bamba, um conga furados(por isso quando ganhei meu primeiro salário comprei um tenis de marca e não entendia o porque), ganhávamos o uniforme velho dos primos ou dos filhos de professores, que nos ajudavam ainda com os livros. Passei minha infância sendo tratado como coitado e sei hoje, de manhã, de madrugada, o porque tenho raiva quando acham alguém coitado, todo pobre é um coitado, e tenho raiva disto porque não somos. Estes projetos socias estas cenas grotescas de mentirosas mostrando propaganda de projetos, associações, crianças tocando instrumentos eruditos com cara de felizes e bem alimentados, mas com as roupas esfarrapadas isto tudo, é tratamento de coitado. À merda com isto, com esta sociedade burguesa e filha de uma Puta (que não teve culpa), esta sociedade hipócrita tratando os outros como bichinhos....! Grande raiva. Sou educador e fico com muita raiva , e agora percebo isto quando vêem as crianças da favela, com as quais trabalho, como bichinhos...olhe-os nos olhos, vão ver a vida ali, vão ver força, contradições...são gente! Hoje acordei com raiva, muita raiva!

Nenhum comentário: